Rastreamento por mamografia pode gerar diagnóstico excessivo

A mamografia é um exame de raios x que serve para identificar um nódulo pequeno na mama, de até 1 mm, ou seja antes mesmo que a mulher ou seu médico consigam senti-lo com a palpação. A mamografia, quando identifica um "caroço" que vem a ser um tumor maligno, pode ajudar a salvar a vida da mulher, pois uma vez identificado no exame, o nódulo pode ser retirado e a mulher é tratada mais cedo, com mais chances de cura do câncer. O problema é que a mamografia também ajuda os médicos a visualizarem nódulos ou calcificações que não significam câncer: podem ser tumores benignos ou lesões de outro tipo, que não teriam consequências graves para a saúde dela. A mamografia é recomendada como exame de rastreamento em muitos países, ou seja, um exame realizado de forma sistemática em toda uma população para identificar as pessoas com maior risco para uma doença. Mas será que realizar a mamografia em todas as mulheres realmente ajuda a salvar vidas?

 Uma revisão sistemática da Cochrane, que foi publicada em 2013, teve seu resumo agora traduzido pelo Centro Cochrane do Brasil. O trabalho reuniu estudos com mais de 600 mil mulheres, de 39 a 74 anos, e mostrou que o rastreamento por mamografia reduz a mortalidade em 15% em 13 anos de acompanhamento. Porém, ao mesmo tempo, ele faz com que algumas mulheres recebam diagnóstico de que têm um tumor, apesar de o tumor poder não levá-la à morte ou doença grave, e por isso passam por ansiedade e sofrimento desnecessariamente. Mulheres com nódulos de mama podem ter essas lesões removidas por cirurgia desnecessariamente: para cada 2 mil mulheres submetidas ao exame de mamografia de rotina ao longo de 10 anos, 1 morte por câncer da mama será evitada e 10 mulheres saudáveis, que não teriam recebido nenhum diagnóstico se não tivessem feito a mamografia de rotina, serão tratadas desnecessariamente. Isso quer dizer que, ao ter um nódulo identificado pela mamografia, é preciso realizar mais exames para identificar melhor qual é o tipo de lesão, e se exige tratamento.

 No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda que todas mulheres com 50 anos ou mais façam mamografia de rotina a cada dois anos, independentemente de pedido médico. Antes dos 50 anos e depois dos 70, o Ministério considera que a mamografia de rotina não traz benefício.

Leia o resumo traduzido desta Revisão Sistemática Cochrane clicando aqui.