Tratamento da síndrome de Guillain-Barré (paralisia aguda): ainda um desafio

A epidemia mundial de infecção pelo Zika vírus vem preocupando, principalmente as gestantes, por causa do risco de terem bebês com microcefalia. Porém existe também uma outra preocupação relacionda com essa infecção: a possibilidade de que o vírus da Zika produza a chamada síndrome de Guillain-Barré. Essa é uma forma rara de paralisia aguda que pode levar um quarto das pessoas afetadas a precisarem de aparelhos até para respirar.

A síndrome de Guillain-Barré é uma inflamação grave nos nervos do paciente. Essa inflamação é provocada por uma reação autoimune da pessoa, ou seja, o paciente começa a produzir anticorpos que atacam os seus próprios nervos. A síndrome impede que os nervos transmitam bem seus sinais do cérebro para os músculos, e isso leva a formigamentos, fraqueza, dificuldade de andar, ou a paralisia dos membros e dos músculos da respiração. Não se sabe a causa exata da síndrome, mas ela está relacionada com infeções bacterianas e virais, como a influenza, pneumonias, HIV, e mais recentemente foi ligada também ao vírus da Zika.

A recuperação demora várias semanas ou meses e muitas vezes é incompleta. É necessário tratamento imediato para evitar a progressão rápida da doença. Ainda assim, cerca de 25% dos afetados precisam de ajuda de respiradores, 10% ficam incapacitados para sempre e 5% morrem.

A Cochrane já realizou algumas revisões sistemáticas da literatura sobre as opções de tratamento para as pessoas afetadas pela síndrome de Guillain-Barré. O Centro Cochrane do Brasil, em linha com as preocupações nacionais sobre o Zika vírus, acaba de traduzir três desses resumos.

O que funciona e o que não funciona

Uma das revisões, publicada em 2012, fala do tratamento com corticoides. Por serem anti-inflamatórios potentes, os corticoides deveriam, em teoria, reduzir os danos aos nervos, provocados pela síndrome de Guillain-Barré. Porém não funcionam nos casos de Guillain-Barré. Não se sabe por quê, os corticoides não conseguiram retardar a progressão da doença, e ainda por cima aumentaram o risco dos pacientes de desenvolver diabetes. Veja aqui o resumo dessa revisão sistemática.

Outra revisão, publicada no mesmo ano, abordou a substituição do plasma do sangue da pessoa afetada. O plasma é a parte líquida do sangue e essa substituição, feita por uma máquina, se chama plasmaférese. O objetivo da troca de plasma é eliminar da circulação esses autoanticorpos que a pessoa criou e injetar de volta no corpo dela um plasma limpo. A plasmaférese funciona para a síndrome de Guillain-Barré: ela ajuda a acelerar a recuperação dos pacientes e não causa efeitos colaterais graves. Veja aqui o resumo dessa revisão sistemática.

A terceira revisão sistemática abordou outros tratamentos (que não os corticoides e a plasmaférese), e verificou que faltam estudos consistentes sobre a filtração do fluido cérebro-espinhal, sobre um fator de crescimento de nervos, sobre uma erva medicinal chinesa que tem sido investigada para a síndrome e sobre o interferon beta-1a, uma droga que é benéfica para a esclerose múltipla. Não se pode ainda dizer se funcionam ou não. Veja aqui o resumo dessa revisão sistemática.

Os resumos dessas revisões estão disponíveis em: 

Corticoide: http://onlinelibrary.wiley.com/wol1/doi/10.1002/14651858.CD001446.pub4/abstract<

Plasmaférese:http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD001798.pub2/full 

Outros tratamentos: http://onlinelibrary.wiley.com/wol1/doi/10.1002/14651858.CD008630.pub3/abstract