Comemorando o 20o aniversário do Centro Cochrane do Brasil

O aniversário ocorreu em 31 de outubro e será comemorado em dezembro

 

Fundado em 31 de outubro de 1996, o Centro Cochrane do Brasil comemora seu vigésimo aniversário este ano. Nas últimas duas décadas, o Centro apoiou autores de diferentes regiões do país e produziu mais de 300 revisões sistemáticas para o Ministério da Saúde. Algumas dessas equipes de autores estão agora iniciando atividades Cochrane em suas próprias regiões.

No primeiro semestre de 2016, a Colaboração Cochrane anunciou a criação da primeira Rede Nacional Cochrane no Brasil. Essa rede é coordenada pelo Centro Cochrane do Brasil (com sede  São Paulo) e conta com cinco Centros Afiliados regionais, localizados nos estados do Ceará, Paraíba, Pará, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Por ocasião do vigésimo aniversário do Centro Cochrane do Brasil, Dr. Álvaro Atallah, fundador e diretor do Centro, nos conta um pouco sobre a história e as conquistas do Centro desde sua inauguração até os dias atuais.

 

Dr. Álvaro Atallah, como se sente comemorando o vigésimo aniversário do Centro Cochrane do Brasil?

Nós nos sentimos honrados pela oportunidade de ter contribuído para que o conceito da saúde baseada em evidências (SBE) tenha se espalhado por todo o Brasil. Estamos felizes com nossas realizações educacionais. Tivemos a oportunidade de contribuir para a formação de milhares de profissionais de saúde brasileiros, ensinando-lhes como produzir e como usar as evidências de alta qualidade que a Cochrane produz. Sentimo-nos orgulhosos por ter contribuído com as autoridades nacionais para ajudar a estabelecer políticas de saúde que norteiam os cuidados dos pacientes sob os princípios da SBE.

 

O senhor pode nos contar, em suas próprias palavras, como tudo começou?

Em 1988, os médicos Richard Petto e Rory Collins me convidaram para ajudar a desenhar um ensaio clínico randomizado sobre aspirina para prevenir a pré-eclâmpsia. Eu fui até a Unidade de Ensaios Clínicos da Universidade de Oxford, na Inglaterra, onde conheci o Professor Ian Chalmers, com quem estabeleci fortes laços profissionais e pessoais que duram até hoje. Fui então convidado a participar das reuniões que resultaram na criação da Colaboração Cochrane em 1992.

Logo depois, Ian Chalmers nos encorajou a fundar o primeiro Centro Cochrane em um país em desenvolvimento. Ian Chalmers foi nosso patrono e inaugurou o nosso Centro em outubro de 1996, em São Paulo, dentro da Universidade Federal de São Paulo.

 
 

Olhando para trás, para os últimos 20 anos, quais foram as maiores conquistas?

A partir da década de 1990, criamos uma forte parceria com a Universidade Federal de São Paulo. Através dessa parceria, treinamos centenas de estudantes de graduação e residentes, bem como 260 alunos de pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado) sobre os princípios da saúde baseada em evidências e das revisões sistemáticas. O trabalho do Centro Cochrane do Brasil levou a Universidade Federal de São Paulo a criar o primeiro curso de pós-graduação de SBE do país e a primeira disciplina de SBE de um curso de medicina no Brasil.

Em 2003, nossa equipe começou a treinar funcionários técnicos estratégicos do Ministério da Saúde. Esta iniciativa resultou em uma economia de aproximadamente 5 a 10 bilhões de dólares por ano no orçamento do sistema de saúde pública no Brasil. Em 2011, graças a esse trabalho contínuo, a Presidência da República criou uma lei federal (número 12.401), que determinou o uso de avaliações de tecnologia de saúde de alta qualidade, usando as revisões Cochrane como padrão-ouro, como requisito obrigatório para se incorporar qualquer nova tecnologia no sistema único de saúde do Brasil.

Nós já produzimos mais de 300 revisões Cochrane. Três dos membros da equipe do Centro Cochrane do Brasil estão entre os 10 autores com maior número de publicações na área no país.

Nós disseminamos a "cultura da saúde baseada em evidências" em todo o país, através de cursos a distância e cerca de 1.500 programas de TV transmitidos em canais abertos em horário nobre, com o apoio de parceiros importantes, como a Associação Paulista de Medicina (APM). Estas iniciativas ainda continuam.

Em 2007, o então presidente do Brasil (Luís Inácio Lula da Silva), juntamente com vários ministros e autoridades, visitou a Universidade Federal de São Paulo para lançar um programa nacional de planejamento familiar e para reconhecer o trabalho do Centro Cochrane do Brasil no país.

Também em 2007 foi realizado o XV Colóquio da Cochrane em São Paulo, com cerca de 1.000 participantes. Ao lado do programa científico de altíssima qualidade, pudemos promover diversas atividades sociais que fortalecerem os vínculos entre os participantes e propiciaram novas amizades. As atividades incluíram um jogo de futebol entre os participantes do Colóquio da Cochrane e famosos jogadores brasileiros aposentados (como Sócrates, Rivelino, Ademir da Guia, Raí, Edu e muitos outros), bem como aulas de samba. A festa de despedida deste Colóquio foi uma das mais populares!

Em 2013, graças ao nosso trabalho junto aos Ministérios da Educação e da Saúde, ajudamos a criar um site sobre SBE que reúne milhares de sínteses de evidências e avaliações tecnológicas de saúde, todas disponíveis gratuitamente para qualquer profissional de saúde brasileiro.

 

O que mais considera importante?

No início da nossa trajetória, tivemos que enfrentar uma forte resistência em relação ao conceito de SBE e à relevância do Centro Cochrane do Brasil por muitos investigadores, instituições e professores universitários. Ao longo do tempo, conseguimos superar essas barreiras e obter o reconhecimento e até mesmo o apoio de universidades, associações profissionais e do Ministério da Saúde para o nosso trabalho. Recentemente, nosso trabalho também ganhou o respeito e o reconhecimento de jornalistas e de juízes regionais e do Supremo Tribunal Federal.

 

Quais são as prioridades para o senhor e para o Centro Cochrane Brasil no futuro próximo?

Queremos continuar a investir no desenvolvimento e na disseminação da cultura da SBE. Isso vale não só para o campo da saúde, mas também para outras áreas, como a área jurídica, do jornalismo, da biblioteconomia e para a sociedade em geral. Estamos também desenvolvendo uma rede de Centros de Afiliados no país, como parte da primeira Rede Nacional Cochrane do mundo.

 

Como vai ser comemorado o vigésimo aniversário?

Estamos preparando uma cerimônia para agradecer publicamente a todos os que nos ajudaram ao longo dos anos, como ministros da saúde, reitores, coordenadores de cursos de pós-graduação, autoridades jurídicas brasileiras, colegas e os pioneiros nacionais e internacionais da Colaboração Cochrane.

 

Qual é a sua mensagem para os tomadores de decisão de saúde no Brasil neste momento especial para o Centro Cochrane do Brasil?

Estamos muito satisfeitos com o progresso que as autoridades de saúde têm feito ao longo dos anos no Brasil e por seu apoio contínuo para o nosso trabalho. Esperamos que eles continuem a apoiar o nosso trabalho e nos ajudem a disseminar os conceitos da SBE para a nova geração.